Não posso manifestar-me a respeito
das paralisações que estão ocorrendo no Paraná sem antes mencionar duas situações
que penso ser interessantes.
Em 1964, na revolução brasileira pela democracia, eu ainda criança, vi meu pai
sendo preso e encarcerado. Aquela noite, quando os policiais da repressão foram
até minha casa, nunca esqueci. Meu pai e um tio foram presos na mesma noite. Eles
tinham opiniões próprias, lutaram e sabiam do valor de um país livre e
democrático.
Em 1981, quando ainda estudava na Fundação
Faculdade de Direito de Jacarezinho, participei de uma reunião do MDB em Andirá
(na época partido de esquerda em oposição ao Governo que era da ARENA) e
conversei com o Senador José Richa para que ele, com seu poder político, concedesse
uma bolsa de estudo para uma colega que não conseguia pagar a faculdade. Ele me
disse que era uma obrigação do Estado o estudo superior e que era para ela
entrar em contato com seu gabinete. Ela conseguiu. Ele, José Richa, tinha
opinião própria e lutou por um país livre e democrático.
Hoje, alguns anos após, vejo que
pouca coisa mudou. A opressão por meio da força não se faz mais (talvez seja
essa a pequena diferença), no entanto, a opressão por meio da economia é uma
das formas que o Governo usa para enfraquecer a consolidação da democracia.
O enfraquecimento do ensino por
meio de corte orçamentário deixa todos vulneráveis ao comando de apenas um
dirigente, pois o controle da vida da sociedade pela economia demonstra
claramente a falta estrutura para consolidar um país que pode ser construído
com liberdade no conhecimento científico, na pesquisa, na força dos nossos
jovens, na experiência dos nossos professores, numa escola de qualidade.
Mas uma coisa gostaria de deixar
claro: nunca conseguiria contar as duas histórias iniciais se não fosse minha
formação escolar pelas mãos da Dona Jacira, minha primeira professora, que
sempre ganhou muito pouco e hoje passa por sérias dificuldades financeiras. Morando
em uma casinha bem simples, dependendo de remédio do Governo e atendimento
médico precário. O governo conseguiu controlar a vida dela pela economia quando
cortou verba orçamentária para a educação. Ela passou a viver com muito pouco e
é sempre dependente do Estado.
A Dona Jacira? O governo nunca deixou
que ela tivesse opinião própria.