Ele tinha tudo pra ser uma boa pessoa, mas resolveu ser
bandido. Isso mesmo. Bandido da pior espécie. Não frequentou a escola regular,
é iletrado, anda armado, casado, faz academia, tem fama de mau. E é mau mesmo. Matou
não sei quantos.
A escolha do caminho pela bandidagem não foi à toa. Foi uma
escolha à dedo.
Pensou: se estudo e sou muito bom no que faço, o máximo que
posso conseguir na vida é trabalhar muito, ganhar bem, mas não o suficiente
para conquistar meus luxos. Serei, com certeza, mais um grande engenheiro, advogado,
juiz, escritor, sei lá, alguém, mas nunca terei a notoriedade social que um
bandido terá e muito menos serei admirado pela sociedade.
Admirado ou temido? Pra ele não importa, o importante é trabalhar
pouco, ganhar muito, ter o suficiente para não ir preso, enfim, viver sem
qualquer medo. Como viveria se fosse um engenheiro, um advogado, um juiz ou
mesmo um escritor.
Não teria medo de ser sequestrado porque seria o
sequestrador; de ser morto com um tiro por ser aquele do outro lado da bala; e
no final da vida, já velho ou mesmo morto quando jovem, teria ao seu lado
vários políticos lhes prestando homenagens e atribuindo a ele o nome de uma
importante rua em sua cidade natal.
Tudo isso, porque são iguais, ele e os políticos que o
apoiaram, pois nada na vida separa aqueles irmanados por uma causa social tão
relevante: o dinheiro público desviado e o dinheiro da bandidagem estão
irmanados.