sábado, junho 28, 2025

Indicação de leituras - Racismo no mundo empresarial


Direito Constitucional Antirracista

por Paulo Scott (Autor)

Esta obra ensaística, produzida por um dos escritores mais celebrados da literatura brasileira contemporânea, oferece uma abordagem provocadora e original sobre o racismo sistêmico no Brasil. Com uma linguagem atualizada e incisiva, o autor explora a interseção entre Direito, Sociologia, Psicologia e Literatura para defender o Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial 2024, instituído pelo Conselho Nacional de Justiça.  O livro destaca a importância deste protocolo como um marco normativo essencial na construção de uma nova tutela dos direitos no país. Ao adotar uma perspectiva transdisciplinar, a obra não apenas ilumina as complexidades do racismo sistêmico, mas também propõe caminhos inovadores para seu enfrentamento no âmbito jurídico e social.  Destinada a profissionais do Direito, acadêmicos e leitores interessados em questões de justiça social, esta obra se estabelece como uma leitura indispensável para compreender e atuar na promoção de uma sociedade mais equitativa e justa. Combinando rigor analítico e sensibilidade literária, o autor oferece uma contribuição significativa ao debate contemporâneo sobre direitos humanos e igualdade racial no Brasil.




Pequeno manual antirracista 

Djamila Ribeiro (Autor)


Onze lições breves para entender as origens do racismo e como combatê-lo.

Neste pequeno manual, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. Em onze capítulos curtos e contundentes, a autora apresenta caminhos de reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação do estado das coisas. Já há muitos anos se solidifica a percepção de que o racismo está arraigado em nossa sociedade, criando desigualdades e abismos sociais: trata-se de um sistema de opressão que nega direitos, e não um simples ato de vontade de um sujeito. Reconhecer as raízes e o impacto do racismo pode ser paralisante. Afinal, como enfrentar um monstro desse tamanho? Djamila Ribeiro argumenta que a prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas. E mais ainda: é uma luta de todas e todos.

* Prêmio Jabuti 2020 na categoria Ciências humanas. *





Executivos Negros: Racismo e Diversidade no Mundo Empresarial 

 Pedro Jaime (Autor)


Pedro Jaime aborda a inclusão do negro na sociedade brasileira a partir da investigação do racismo e da diversidade no contexto empresarial paulistano, dando espaço, nesta obra, para as vozes de uma categoria social que denomina de “executivos negros”. Além de apresentar um levantamento numérico e qualitativo destes indivíduos e do cargo que ocupam, o autor também recorre à etnografia e à reconstrução de narrativas biográficas para mapear a trajetória profissional de duas gerações de executivos negros em São Paulo, nas quais baseia seu estudo. Deste modo a obra capta o quadro de mobilidade desse grupo e o conjunto de fatores que a determinam, deixando em evidência as grandes mudanças na construção destes percursos profissionais entre 1970 e o começo do século XXI.



sexta-feira, junho 27, 2025

Ficção Jurídica - O divórcio nas mãos erradas da Justiça

 

    Um divórcio não consensual e a demora na prestação jurisdicional: o luxo de não realizar audiências nas sexta-feira.


    Maria do Carmo, mulher de renda média, casada sob o regime de comunhão parcial de bens e mãe de uma filha menor, recorreu ao Judiciário para resguardar os seus direitos como cônjuge e proprietária de poucos bens. Sua subsistência – e a da filha – há tempos dependia exclusivamente do seu salário, já que o marido se eximia de qualquer contribuição efetiva para as despesas do lar. Enquanto negava recursos para medicamentos da criança, chegou a transferir, se não me falha a memória, R$ 400 via PIX ao ex-presidente, como gesto de apoio à extrema-direita.

    Cansada da convivência com o fanatismo político do ex-companheiro, Maria do Carmo decidiu deixar a residência do casal. Tentou permanecer com a filha no imóvel, mas o marido se recusou a sair. Diante disso, ela se mudou e alugou uma nova moradia. A vida, então, melhorou longe do extremismo bolsonarista.

    Sua história, entrelaçada à do filho, cruzou inevitavelmente o caminho do Judiciário. Ajuizou ação de divórcio litigioso com pedido liminar de pensão alimentícia, fundamentando a urgência na permanência do ex-marido no imóvel do casal e na necessidade de arcar com o aluguel. Pleiteou 30% do salário do requerido, valor que foi devidamente comprovado por contrato de trabalho.

    Surpreendentemente, o Ministério Público, mesmo ciente da condição de urgência e da deficiência da filha, manifestou-se contra o percentual requerido, sugerindo o arbitramento de apenas 22% do salário mínimo. Diante da urgência e do desespero, não foi interposto agravo contra esse parecer.

    Vale observar que, em março de 2025 – data em que este relato é escrito –, o salário de um Promotor de Justiça alcança R$ 47.000,00 (fonte: https://apps.mppr.mp.br/sis/ext/mem/indfolha.html). Para alguém da super elite, qual seria a importância da vida de uma mulher pobre com filha deficiente? Nenhuma. Os direitos humanos, nesse contexto, parecem servir apenas para a ficção literária e as aulas de pós-graduação.

    Seguindo.

    O processo foi proposto em maio de 2020, a audiência de conciliação foi designada pelo Juiz  da Comarca para janeiro de 2021. Enquanto isso Maria do Carmo e o filho teriam que se virar sozinhos. 
(O salário do Juiz de Direito da Comarca é de R$112.010,58 (fonte: https://www.tjpr.jus.br/folha-de-pagamento). Nota: O valor teve por base um juiz de entrância intermediária. Um Juiz de Direito Substituto recebeu em janeiro de 2025 o valor de R$109.536,30)

    Indagados o porquê do tempo para se marcar uma audiência de conciliação a resposta sempre é a mesma: não tinham pauta até aquela data. Maria do Carmo socorreu ao pedido verbal, pois o advogado não trabalhou para antecipar a audiência de conciliação e fazer com que o processo tivesse um trâmite mais rápido, devido a urgência da situação. 

    Com a insistência de Maria do Carmo, antecipou-se a audiência para três meses depois da ação ser distribuída. Menos mal. 

    Mas o Judiciário continua mais do mesmo. Audiência antecipada. Na sala de audiência Maria do Carmo, seu advogado, o Requerido, uma estagiária e o advogado do Requerido por vídeo conferência.
Sem juiz, sem promotor, sem qualquer assistência legal.

    Resultado da audiência: discussão e bate-boca para divisão de bens e pagamento de pensão.
    
    Cadê o juiz e o promotor? 

    O processo se arrastou durante anos. 

    Dos vários pedidos poucos foram decididos de forma correta e aplicação da justiça, ao contrário, os lapsos temporais privilegiam sempre aquele que não respeita a lei. Juízes relapsos são os que mais contribuem para um olhar negativo do serviço público prestado pelo judiciário. 

    É mais do que certo não se assustar com tudo isso, pois o Poder Judiciário é, junto com o Poder Legislativo, perdulário e contribui para a exclusão social. (Indicação para leitura: O país dos privilégios. Vol 1. Os novos e velhos donos do poder. Bruno Carazza. Editora Melhoramento).

    A elite do atraso (termo cunhado por Jessé Souza) encontra-se nos corredores do judiciário do país. Ao negar-se ao trabalho, como não deveriam fazer, relevam a vida de pessoas ao menor patamar de humanidade. 

    Esta estória ainda não terminou. Como é uma ficção jurídica e a liberdade para escrever pode ir longe, teremos a sequência em uma breve segunda parte quando será contado as decisões maldosas do juiz (foi sem querer querendo, atrapalhar a vida das pessoas).

quinta-feira, março 06, 2025

O passado não é aquilo que passa, é aquilo que fica do que passou. 

Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde)

terça-feira, fevereiro 11, 2025

Até Pensei

Chico Buarque

Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caia, toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via

Do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha

Junto a mim morava a minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia de sonho e fantasia
E a dona dos olhos nem via

Do lado de lá tanta ventura
E eu a esperar pela ternura
Que a enganar nunca me vinha
Eu andava pobre, tão pobre de carinho
Que, de tolo, até pensei que fosses minha

Toda a dor da vida me ensinou essa modinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha




domingo, fevereiro 09, 2025

Os donos do poder - Raymundo Faoro

 No livro "Os Donos do Poder", de Raymundo Faoro, publicado pela primeira vez em 1958, o autor analisa a formação política e social do Brasil, com foco na estrutura de poder e nas elites dominantes, buscando entender as raízes do autoritarismo e da concentração de poder no país.

A obra está dividida em duas partes. 

Na primeira parte, Faoro analisa o período colonial, destacando como a estrutura de poder foi moldada pela relação entre a Coroa Portuguesa e as elites locais, evidenciando o poder da elite na sociedade brasileira em formação. É nessa primeira parte que Faoro desenvolve o conceito de patrimonialismo, que se torna o tema central de sua análise social e econômica. O patrimonialismo, segundo o autor, consiste na apropriação do Estado como propriedade privada por uma elite que, aproveitando-se de sua condição social privilegiada, utiliza o Estado em benefício próprio.

Essa elite se mantém no poder através de um sistema burocrático – segunda parte - estatal que é utilizado para controlar a população e garantir seus interesses. A dominação dessa elite se adapta para manter o controle tanto do patrimônio do Estado quanto dos pensamentos e atitudes daqueles que não fazem parte da elite.

A burocracia, como instrumento de poder, consolida o controle da elite, que o utiliza para servir seus interesses particulares, e não para o bem comum. Faoro, em seu livro, critica essa tradição autoritária que exclui e marginaliza a população, impedindo a construção de uma democracia plena.

Ao final de sua análise, Faoro, já nos anos de 1950, alerta que, apesar das aparentes mudanças, a estrutura de poder no Brasil permanece essencialmente a mesma.

Mas onde quero chegar? 

Fácil perceber, pelo menos por alguns, que o poder estatal no Brasil está nas mãos das elites que usufruem de todos os benefícios materiais que podem extrair dos seus cofres. Orçamento secreto, por exemplo, é um dos enormes benefícios utilizados pelos dos no poder. 

Além desses benefícios financeiros usurpados por meio de “privilégios” – Privilegium. “Lei privada”, em latim (Bruno Carazza. O país dos privilégios Vol. 1 Os novos e velhos donos do poder) – os donos do poder utilizam da lei privada para mandar e desmandar. Humilhar, destratar e refutar quem não está com eles na posição de elite.

Falando assim parece que só ocorre a ditadura do poder ou autoritarismo e burocracia atinge altos comandos. Não, em qualquer repartição pública você encontrar pessoas que se mantém no poder por meio da burocracia que criam para poder controlar. Alguns controlam até seus superiores, pois conseguem, por meio de atos pouco convenientes, fazer o superior entender que ele ou ela é imprescindível para o sucesso da sua administração.

Outro controle que exerce a elite sobre aquele que não pertence à sua classe, é o de impedir o crescimento de terceiros dentro do estamento burocrático dominado pela classe. As formas de impedir são várias e algumas conhecidas são impedir que se desenvolva projetos que eles não pensaram; impedir o crescimento intelectual e educacional, enfim, a palavra para manter esses privilégios é impedir que o outro não tenha espaço de crescimento. Principalmente àqueles que se destacam em suas profissões, porém não pertence ao controlador do poder.

Esse sistema de usurpar o poder para controlar os privilégios pessoais é corriqueiro em entidades públicas desde o pequeno órgão com 3 funcionários quanto aquele com diversos servidores. A atuação dos donos do poder pode ser encontrada nessas repartições públicas municipais, estaduais e federais. Presencia-se o controle em pequenos municípios, em salas de aulas, nas salas dos professores e, principalmente, hoje, nas salas virtuais de reuniões.

 


sábado, fevereiro 08, 2025

Ficção jurídica

Advogados


Algumas situações surgem no momento certo. Por isso, resolvi criar alguns contos de ficção jurídica para demonstrar que o advogado não é o inimigo que muitos imaginam. Não pretendo transformar estes contos em um compêndio de lições para alunos ou professores de Direito; trata-se, antes, de um alerta – ainda que sob a forma de ficção – sobre os desafios enfrentados por aqueles que negligenciam a importância de uma formação jurídica sólida e ética.

Em um cenário onde a figura do advogado é cada vez mais desprestigiada, correndo o risco de ser reduzida a mero burocrata, a competência e a honestidade tornam-se pilares indispensáveis da profissão. Aos futuros bacharéis em Direito, que se formam com a integridade e a capacidade que a sociedade espera, estes contos servem apenas como um passatempo e talvez como uma lição na vida, pode ser até um guia para que não se percam no labirinto da injustiça e da desvalorização profissional, muitas vezes perpetrados por pessoas do seu convívio diário.

É voz corrente nos corredores dos fóruns de justiça e talvez também nos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que a relação entre advogados e outros atores do sistema judiciário nem sempre é harmoniosa. Um ditado irônico ilustra essa situação: 'Juízes não apreciam advogados, promotores não simpatizam com advogados, estagiários não toleram advogados e advogados, por sua vez, não se afetam por seus pares'.

Shakespeare, em sua peça Henrique VI, ecoa essa antipatia na fala de um de seus personagens: 'Para resolver os problemas do reino, é imperativo eliminar todos os advogados!'. Tamanha aversão, no entanto, não se justifica. Advogados, historicamente, têm sido a voz dos oprimidos, a barreira contra o arbítrio e a injustiça. Foram os advogados que, em tempos de ditadura e autoritarismo, defenderam os direitos humanos e combateram à tirania. Essa tradição de luta em defesa da justiça, infelizmente, parece estar se esvaindo.

Muitos profissionais da advocacia, nos dias de hoje, têm se distanciado da essência da profissão. Ao invés de defender com veemência os interesses de seus clientes, limitam-se a reproduzir modelos de petições encontrados na internet, comportando-se como meros burocratas. Essa postura, para dizer o mínimo, é lamentável. O advogado, antes de tudo, deve ser um defensor da justiça, para proteger os direitos dos cidadãos e lutar por uma sociedade mais justa e igualitária.

O medo e a dependência colocam alguns advogados de joelhos a implorar para o judiciário que despache um alvará, que designe audiência rápida (esse será um dos contos de ficção mais emblemáticos), pois a cliente está a passar dificuldades financeiras. 

Essa crítica ecoa com as palavras de renomados juristas, como o filósofo do Direito Luis Alberto Warat,  que afirmou: “O ensino jurídico atual é formatado para produzir tecnocratas. Para mudar esse cenário, os professores poderiam se inspirar no conceito de "carnavalização do Direito", que prega a inversão da ordem e o desenvolvimento do senso crítico nos alunos (RODAS, Sérgio. Ideias de Warat ajudam a formar profissionais do Direito críticos, e não tecnocratas. Conjur, 6 fev. 2025. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2025-fev-06/ideias-de-warat-ajudam-a-formar-profissionais-do-direito-criticos-e-nao-tecnocratas/)

Muitos dos contos não terão um desfecho definido, mas serão bem desenvolvidos para evitar dúvidas sobre a história.


Das Vantagens de Ser Bobo


Clarice Lispector, do livro “A descoberta do mundo”. [crônicas]. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”


Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.


O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.



Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.


Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”


Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!


Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.


O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.


Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. 


E só o amor faz o bobo."


 


Indicação de leituras - Racismo no mundo empresarial

Direito Constitucional Antirracista por Paulo Scott (Autor) Esta obra ensaística, produzida por um dos escritores mais celebrados da literat...